Entre teatro 
e realidade

Comércio de armas, morte e luto, o moderno mundo do trabalho. O grupo “Rimini Protokoll” inclui nas suas encenações as experiências autênticas dos atores.

Von Till Briegleb

26.09.2015 / Deutschland.de

Atores são peritos do “fazer de conta”, assumindo papeis de outros peritos para representar, por exemplo, o poder, o sofrimento de amar ou ações para salvar o mundo. E 
fazem isso com mais convicção do que os próprios representados. Se as pessoas que servem de modelo tentassem representar a si mesmas, essa tentativa seria irrealista, pois, no teatro, os peritos da vida real são apenas 
amadores. Partindo dessa relação estranha entre realidade desamparada e autenticidade representada, o grupo teatral ALEMÃO-suíço Rimini Protokoll desenvolveu formatos especiais para os palcos. Helgard Haug, Stefan Kaegi e Daniel Wetzel estão trabalhando com experiências autênticas desde 2000.
Na peça “Karl Marx: Das Kapital, Erster Band”, de 2006, estão as impressões de peritos que lidavam profissionalmente com essa importante obra histórica. No caso de “Deadline” (2003) foram os peritos da morte que se destacariam. Em “Sabenation” (2004), foram os antigos funcionários da companhia 
aérea belga “Sabena”, que fora à falência em 2001. Dado que 
as interpretações pessoais sobre esses temas são expressamente desejadas, os autores também assumem simultaneamente o papel de autores do drama. Os raros casos de fracasso não confirmam que isto seja demais para os leigos. O Rimini Protokoll conta conscientemente com essa situação ridícula do teatro de leigos, pois estes revelam no teatro a aparência falsa da realidade representada. Além disso, esse grupo, com seus corajosos atores, consegue compor séries de cenas muito diversas, elaborando temas reais com facilidade.
O problema da manipulação dos espectadores através da realização profissional, como o teatro tradicional normalmente oferece, não é tematizado pelo Rimini Protokoll apenas através do contraste entre leigos e peritos, dado que, em outro formato, usado regularmente, os três autores e diretores ocupam-se com o controle remoto de percepções através de distância técnica. Os espectadores são guiados por vozes que 
soam dos fones de ouvido, sendo levados através de cidades ou aeroportos. Eles recebem ordens, ouvem interpretações estranhas do ambiente onde se encontram ou são animados a representar pequenas cenas em público, sendo que sempre está presente a questão, se esse domínio alheio representa agora, na verdade, uma boa oferta ou uma má tentação do autoabandono.
O mais complexo projeto do Rimini Protokoll, que foi agraciado com inúmeros prêmios, combina o controle remoto com o encontro de peritos, no âmbito de uma instalação que gira em torno do tema sobre o comércio de armas. Em um grande compartimento com diversos palcos autenticamente encenados – que leva o título da peça “Situation rooms” (2013) –, os espectadores levam um tablet nas mãos, encontrando-se com aqueles que tiram vantagem da ECONOMIA de violência e com as vítimas. Seguindo indicações de uma pessoa anônima, os espectadores assumem o papel de peritos de segurança, de vítimas de armas ou de inspetores de violência militar excessiva. Essa telenotícia com participação do telespectador demonstra, de maneira chocante, uma forma totalmente nova da força do teatro de “fazer de conta”. O Rimini Protokoll dos últimos 15 anos ampliou essa forma a um significante horizonte do teatro europeu. ▪